terça-feira, 13 de outubro de 2009

meus dias.

Prosa e poesia


Os seres humanos co-habitam a Terra de duas maneiras, que por serem diferentes entre si são complementares.


Enquanto movemos nossos corpos, cadenciando-os ao ritmo de uma canção; Enquanto nos deleitamos com o recreio dos olhos, observando as estripulias do acontecer-por-aí; Enquanto abrimos nossos poros à disposição do som da vida, como numa reverência ao silêncio; Enquanto nos despimos em frente ao espelho dos nossos olhos, reparando em nós mesmos e nos reconhecendo seres-no-mundo; Enquanto respeitamos o mistério que há em vivermos ao mesmo tempo o “eu” e o nós diante de muitos “eus” e “outros” que existem; Enquanto nos descuidamos daquele tempo que não é o nosso e nos lançamos na sublime harmonia de ter no peito o tempo (consciência) de que precisamos pra nos projetar diante das coisas.


Assim é quando habitamos poeticamente.


Enquanto pensamos e racionalmente decodificamos a realidade, como nos binômios, distinguir – entender, nomear-dominar; Enquanto medimos no tempo as horas de que precisamos para chegar onde queremos/devemos estar; Enquanto trabalhamos durante o dia, regularmente, para podermos alcançar as coisas que precisamos pra reproduzir nossas próprias condições de existência; Enquanto decidimos dormir cedo mesmo sendo maravilhoso passar a madrugada em claro, pensando, nos guardando, para as atividades regulares do dia seguinte.


Assim é quando habitamos prosaicamente.


Essas duas dimensões do viver humano, apesar de serem opostos entre si, são partes de um todo que se mantém em constante retro-alimentação. É preciso existir o viver prosaico para que o viver poesia exista e tenha valor (significado, sentido). O ser humano é completo na medida exata dessas duas dimensões.

3 comentários:

  1. Cara, excelente texto!
    De verdade, gostei muuuito!
    O grande desafio, acredito, é encontrar esse equilíbrio entre o prosaico e o poético. Sábios são os que conseguem. E acho que equilíbrio, aqui, não seria a mesma medida exata de cada um, mas, entre a prosa e a poesia, saber o quanto de cada, em quais momentos, nos completam e fazem retornar àquilo que somos por essência.
    Parabéns!

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  2. rapaz, que coisa maravilhosa esse texto. E cheio de verdades. Realmente, encontrar uma equidistância entre essas duas formas de viver do ser humano, talvez seja uma das tarefas mais árduas, porém mais prazerosas do nosso estar aqui, afinal quem buscar esse equilibrio, certamnte, quando estiver mais velho, e consequentemente mais próximo de estabilizar essa balança, poderá dizer que realmente viveu e não apenas existiu.
    beijo, seus dois otarios

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  3. Laba, texto maravilhoso e sugestivo. Daria uma bela conversa, daquelas que "valhe a pena passar a madrugada em claro". Algumas inquietacoes me vieram a mente: Seria mais danoso buscar o viver prosaico em detrimento do poetico ou o caminho inverso? Bj

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