quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Aquário

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Mora dentro do sal
esse peixe de prata
sabe do abismo
sabe o que mata
Na vocação do mergulho
sua luz intacta
segue o risco do fundo
dançando nas águas
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Vistoriado

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Vistoriado
Estava escrito sobre a porta do edifício
A cidade continua crescendo
Sempre numa soma ímpar de olhos
Num sem número de visões ganhei a certeza:
Eu escrevo pra alguém
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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Fala o que você sente

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Fala o que você sente
do jeito que você dá conta
da cor que tem seu sonho
que memória você monta
O par de asas que te acompanha desde o nascimento
te faz saltar com cada vez menos frequência
ou quem sabe esses saltos mudaram de tamanho
são donos de outras esferas
outras físicas e educações
são movimentos que ultrapassam
estéticas, micro-físicas, micro-ondas
Talvez ondas pequenas não sejam também
a essência desse pendor
a essência é ôca somente
completamente vazia
a cabeça de um bebê sem cabeça
o bobs no cabelo da fantasia
Tales lá no fundo do buraco
O que você faria?
Só pode ter se masturbado
ou fez poesia
O que tem pra fazer
na boca enorme do enunciado?
Talvez a prudência esteja mesmo
em saber ouvir
escutar não com os ouvidos
perceber os sons sobretudo
com a memória
com o que há de mais torto
profundo e sem glória
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Depois do Calor

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Um cacho da História
Um vago brilho muito fino
e todo único em cada volta
à guisa de um vento curativo
um outono breve
que revela uma testa lisa
e em alguns quadros sopra
nas costas de Napoleão
Corre em que vão desse quarto?
Depois do calor do deserto
Qual a brisa?
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Kintsugi

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Depois que soprou o vento
vi que era o seu nome
vindo pelas fendas do mundo

Ficou o perfume do oriente
na camisa que eu usava
Um rastro de ouro onde eu parti
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