sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Planos

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Eu não lembrei do sonho
um flash sequer
nem uma certeza
me dei conta que perdi qualquer coisa
parecia uma garrafa de mel
perdi uma imagem de mulher
de viagem no comboio
uma janela pro céu no trilho de santa teresa
uma cidade inteira chamada outro horizonte
o real impossível que eu saboreei
sem nenhuma finalidade
uma fita vermelha
o laço de inauguração de um novo
buraco
na peneira que me protegia
do sol
adeus vida perfeita
eu quase esqueci que cheirava mal
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Critica musical

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Todo riso sabe que vai morrer
a mão na coxa de Bernini
também sabe, menos
tua música inútil que faz doer
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A Revista #4

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As árvores não estão erradas
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Sua Baixeza

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Não compreendeste nada
quem vos fala é a sua baixeza
rei de menorca
acolhe o vil
Levar porrada
ajuntar tanto ardil
pra não ser foda
fada mago
vara pau
cem espadas
meio trago de pólvora molhada
de leite qualquer traço
infantil já é toda realeza
de gente
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terça-feira, 25 de setembro de 2018

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No princípio existia o nome do nada,
não pairava nem se movia sobre nada uma vez que somente existia e mais nada.
Não sustentava nada e tampouco precisava de apoio. O nome do nada era impronunciável. Isso porém não era suficiente, ao nome do nada faltava a palavra, como uma resistência.
Da primeira fala do nome do nada, do primeiro som de sua voz surgem suas duas filhas.
A Graça e a Presunção,
essas moviam-se e viviam sobre a face do nome do nada.
Agora seu nome, até então impronunciável era vivido e experimentado por suas filhas porém não lhes era suficiente.
À Graça e à Presunção faltava algo. Então criaram uma estrela de fogo e chamaram-lhe Sol.
Ele servia agora de calor e luz. (aqui na condição de seu nascimento desenha-se uma impossibilidade de relação com o nome do nada)
Para a Graça era caro o seu calor, para a Presunção a luz seria tudo. O Sol porém não era contente na sua condição de farol.
Existe uma avidez em cada luzeiro que no fundo de sua existência luminosa busca por água e refrigério. Então assim a graça criou um oásis e o colocou no sol.
Era tão fundo que chegava ao centro de seu corpo quente.
Dentro desse oásis a Presunção colocou um peixe de prata
brilhante desde o mais profundo abismo.
Então a profundidade e o brilho eram a jóia de água que o sol carregava em si,
um peixe quase pingente fazia agitos e duas irmãs gêmeas começam a nomear o mundo em torno de sua luz.
Do pequeno peixe sabe-se que o mundo não lhe tem sido suficiente,
e é este o ponto máximo que se consegue chegar até os dias de hoje. Quem consegue enxergar o coração do sol ainda há de aparecer.
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espelho dagua

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dentro do espelho d'agua
debaixo da lente ondulada
sobe lenta e graduada(mente)
uma lenda um peixe de prata
alento é ir além, aquém dessa terra

aquele que vem sabe que na
água erra quem mensura
o tamanho do osso
muda na fundura aperto
e lonjura já não são nada

a essa altura digo
um brilho de prata
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D'or

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Uma língua de ouro
pra quem se queimar menos
pra quem comer mais
que decifra enigmas, histórias
obscuras no meio da falta
de nada
o milhão de falas que a água tem
sussurra um leão de pêssego
dentro da minha cabeça
ela me levou pra ter
um encontro com as pedras
me vi na prata e 
no peixe
e numa luz intermitente
que só podia ser o fluir das nossas vidas
(uma soma)
um rio de cristal misterioso
e a rocha de um barranco
sagrado em minas gerais
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